Com quantas cores se pinta uma cidade?
Autor e ilustrador chileno radicado em São Paulo apresenta a sua metrópole a partir de doze lugares
Autor e ilustrador chileno radicado em São Paulo apresenta a sua metrópole a partir de doze lugares
Rita da Costa Aguiar
24out2021 22h40 (01nov2021 09h03)
Sandoval, Andrés
São Paulo, a minha cidade
Amelì • 12 pp • R$ 42
São Paulo foi originalmente publicado em Portugal pela editora Pato Lógico na coleção A Minha Cidade, na qual cada ilustrador — de vários países do mundo — apresenta a sua cidade a partir de doze lugares que se desdobram em um mapa. Em solo paulistano, o ilustrador chileno Andrés Sandoval propõe um olhar sobre a metrópole de um ponto de vista muito particular.
A publicação no Brasil é da Amelì, uma editora de livros ilustrados que está há quatro anos no mercado editorial. Seu catálogo enxuto de títulos escolhidos a dedo já lhe rendeu menções entre os melhores livros do ano das revistas Crescer e Quatro Cinco Um, além do selo Altamente Recomendável da FNLIJ (Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil) 2020 e 2021.
O livro de Andrés Sandoval faz o paulistano revisitar sua relação imagética com a cidade
O livro é estreito e envolto em uma luva (um papel mais grosso e mais firme, que lembra um envelope), e o primeiro contato do leitor é com a textura da capa, cujo relevo se incorpora à ilustração. A luva é aberta por cima ou por baixo (e não pela lateral), e o movimento de deslizar o livro vai revelando gradualmente a primeira página, onde se inicia o itinerário, que começa com um sobrevoo em Pedra Grande. Dali temos uma vista panorâmica da cidade, que começou entre dois rios: o Tamanduateí e o Anhangabaú.
Ilustração de Andrés Sandoval Divulgação
Da aldeia de jesuítas ao Masp
Em “Sampã”, há uma vista de cima do edifício Altino Arantes (também conhecido como antigo prédio do Banespa) e, nesse mesmo mapa, um aldeamento de jesuítas catequizando indígenas — antigos moradores do local — , até chegar ao prédio inaugurado em 1947. Conforme desdobramos o livro, nos aproximamos do chão até chegarmos ao Museu de Arte de São Paulo (Masp), ao Teatro Oficina e a uma feira livre. Em “Luz e água branca”, somos guiados pelos ipês, sibipirunas e jacarandás. Essa São Paulo de Andrés Sandoval não só aterrissa o leitor nas ruas paulistanas como o remete à história, à arquitetura e à botânica de cada lugar. Ao percorrermos o livro, desdobramos o tempo — e essa é uma das particularidades que Sandoval nos traz ao narrar a sua cidade. Em cada lugar, o tempo se amplia da sua origem aos dias de hoje.
Composto em quadricromia — em uma impressão impecável em magenta, azul, preto e amarelo — , o autor também propõe um olhar a partir de cores que não são comumente usadas quando o tema é São Paulo (em geral, tons de cinza). Aqui predominam os verdes, os amarelos e o ferrugem, que se espalham por meio de uma técnica mista e traços fortes.
Ao final do percurso, chegamos ao grande mapa de São Paulo. O sobrevoo em tantas camadas faz o paulistano revisitar sua relação imagética com a cidade e com a ideia de “lugar”: com quais cores pintamos nossos passos por aqui?
Esse texto tem o apoio do Itaú Social.
Publicado originalmente na revista Quatro Cinco Um: a revista dos livros.
Quatro Cinco Um: a revista dos livros — Andrés Sandoval propõe um novo olhar sobre a metrópole