Estátua!
1, 2, 3 ,4... 10! Lá vou eu.
Lá vamos nós desbravar mais uma obra do Renato Moriconi, autor de livros ilustrados que a cada lançamento nos dá um presente.
Moriconi trabalha com imagem desde muito novo e um dia se deu conta que seria nas obras para a infância que poderia trabalhar com a imagens de maneira mais abrangente. Imagem, texto e suporte juntos e misturados dão muito pano pra manga. Estátua! está aí e não me deixa mentir, com muita naturalidade e de maneira enxuta e precisa ele brinca com essa equação de três elementos.
Formato do livro, é para ler?
Estátua! tem formato horizontal, e um livro assim quando aberto fica longo, sugerindo continuidade. Aqui, o formato é um elemento forte na narrativa da obra.
O centro do livro — a dobra — é um marco estrutural. Sugere um limite algumas vezes até subversivo, e muitos autores tomam partido desta estrutura como elemento narrativo.
Logo na primeira página encontramos uma menina sozinha bem no canto esquerdo, próxima da margem central do livro e enquanto há vazio em todo o resto. Essa amplidão gera um clima de suspense, não sabemos muito bem o que esperar daquele vazio que ela observa, imóvel.
Elementos do livro como título e créditos aparecem conforme folheamos as páginas
e logo entendemos que o lado direito à margem central narra o que está por vir enquanto o esquerdo narra o que já passou (mesmo que agorinha).
“Lá vou eu!”, a menina grita, e então corre em direção a próxima página pegando impulso com as mãos para trás.
Daí pra frente um monte de gente aparece, correndo de um lado para outro, ocupando quase todo o espaço das duas duplas, a maioria das personagens correm para a esquerda e duas ou três para a direita.
Estátua! Um menino foi pego.
A cena congela, as pessoas que estavam em volta somem, a imagem está centralizada na página esquerda (par) do livro assim como o texto da página da direita (ímpar). A dupla fica estática.
A brincadeira continua e a narrativa segue nessa dinâmica, intercalando entre páginas com movimento e páginas estáticas até mudar de estrutura conforme as pessoas vão sendo pegas.
É dada uma sequência de pessoas sendo pegas e o texto ESTÁTUA acelera o ritmo da leitura por aparecer cada vez mais próximas umas das outras e, por fim, uma grande fila de pessoas paralisadas se forma. Encontramos a menina na posição oposta a do início do livro, no canto direito da página.
A imagem se repete e ouvimos um Bárbara! A imagem se repete e ouvimos um Já vou, mãe! E lá se vai e menina na garupa da mãe, escapando pela lateral direita do livro.
Estátua! x Bárbaro
Moriconi lançou Bárbaro em 2013, um livro ilustrado só com imagens que conta a fantasia de um menino ao subir em um cavalo de carrossel. Só no final do livro a gente descobre que era tudo imaginação do menino, até a chegada do pai.
Em Estátua! é igual, mas ao contrário: é a chegada da mãe que muda o fluxo de realidade pra fantasia. Nos dois livros, pai e mãe transitam entre essas linhas que separam realidade e imaginação e mudam toda a história.
Existe um jogo de relações invertidas nestas duas obras: em Estátua! a narrativa se inicia em situações reais e concretas para depois fechar com uma dose mágica de fantasia, sendo oposta ao Bárbaro, que por sua vez parece estar em um campo onírico. Também há uma brincadeira com o nome do título de Bárbaro e o nome da personagem de Estátua!.
O formato do livro nos dá a direção do movimento. No formato horizontal seguir adiante é ir para a direita; no formato vertical subir e descer o personagem na página exemplifica o movimento que os cavalos fazem no carrossel. Essa é outra inversão entre os dois livros.
Ainda sobre a estrutura do livro, não podemos deixar de falar que tanto o Renato Moriconi, quanto muitos outros autores de livros ilustrados contemporâneos usam esse recurso com base nas obras de Suzy Lee. Em especial os três livros que compõem a “Trilogia da Margem” Onda, Sombra e Espelho, reeditados ano passado pela Companhia das Letrinhas.
Nessas obras, a ilustradora sul-coreana usa a dobra central do livro com elemento narrativo, assim como Moriconi usou o formato vertical e horizontal. E aí? Formato do livro é para ler?
Eu tenho um carinho muito especial por Bárbaros! Meu filho nasceu em 2012, um ano antes do livro ser publicado. Ao saber na notícia do primeiro neto, meu pai pirou.
Andando na rua encontrou e comprou um cavalo de carrossel, pintou de branco, pintou todos os detalhes bem coloridos, arrumou os olhos, a crina e mandou fazer um suporte de madeira. Ele ficou um ano arrumando esse cavalo que eu tenho até hoje na sala da minha casa.
Uma amiga presenteou meu filho com esse livro que eu guardo com muito carinho.
Enquanto escrevia este texto, Renato Moriconi foi premiado no BolognaRagazzi Awards (BRAW) por um de seus livros, Dia de lua, publicado pela editora Jujuba. O livro é do selo Literatura de Colo da editora e foi o grande vencedor na categoria Toddler (livros para bebês), que está sendo oferecida pela primeira vez. Entre tantas obras de diferentes países (3.355 títulos de 65 países!), tivemos um destaque tão generoso.
Para conhecer melhor a obra e o processo de criação do Renato Moriconi eu separei estes dois links:
COMO NASCE UM LIVRO INFANTIL? Papo com Renato Moriconi.
Para conhecer o trabalho da Suzy Lee:
Agenda:
Amanhã, dia 2 de março, das 15h às 17h, haverá lançamento na @livrariamiuda com sessão de autógrafos com o autor. Todos os assinantes do Bizoia tem 10% de desconto na compra de qualquer livro na Livraria Miúda, que é nossa parceira neste projeto.
Estátua!
Companhia das Letrinhas
Autor: Renato Moriconi
Revisão: Ana Luiza Couto e Willians Calazans
Tratamento de imagens: Sérgio Campante
Páginas: 48
Formato: 28,60 x 15,60
Acabamento: capa dura
ISBN: 978-65-8177-693-0